Alagoas está entre os estados com as maiores taxas de homicídios de mulheres no Brasil, com destaque negativo para o uso de armas de fogo como principal instrumento dos crimes. O dado alarmante faz parte de um estudo divulgado pelo Instituto Sou da Paz, que analisou a violência armada contra mulheres em todo o país.
De acordo com o relatório, 65% dos feminicídios cometidos em Alagoas foram praticados com armas de fogo, o que coloca o estado entre os líderes nacionais nesse tipo de violência. Além disso, o estudo revela que a cada 10 mulheres assassinadas no estado, mais de 8 são negras, escancarando o impacto do racismo estrutural na violência de gênero.
Feminicídio nas ruas: uma característica nordestina
O levantamento também mostra que, diferentemente da média nacional — onde a residência costuma ser o principal local dos crimes —, no Nordeste e, especialmente, em Alagoas, a maioria dos assassinatos de mulheres acontece nas ruas. Essa peculiaridade regional é vista como um reflexo da forte presença do crime organizado e da circulação de armas ilegais nos territórios urbanos.
“Enquanto em boa parte do país o feminicídio está ligado a relações domésticas e familiares, aqui vemos um padrão associado à violência urbana armada. Isso agrava ainda mais a vulnerabilidade das mulheres”, explicou Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Desigualdade racial e falta de políticas públicas agravam o cenário
A disparidade racial é outro aspecto central do problema. Em Alagoas, a taxa de homicídios de mulheres negras chega a ser 19 vezes maior do que a de mulheres não negras. Isso reforça a urgência de ações interseccionais que levem em conta gênero, raça e território.
Especialistas em segurança pública e direitos humanos apontam que a ausência de políticas eficazes de proteção à mulher, o acesso facilitado às armas de fogo e a ineficiência das redes de apoio institucional contribuem diretamente para o aumento da letalidade feminina.
Recomendações do Instituto Sou da Paz
Diante do quadro preocupante, o Instituto sugere medidas como:
- Fortalecimento da rede de proteção à mulher (Delegacias Especializadas, Casas Abrigo, Centros de Referência);
- Ampliação de programas de desarmamento e controle de armas;
- Investimento em políticas públicas que combatam o racismo e a desigualdade de gênero;
- Melhorias na investigação de feminicídios e responsabilização dos agressores.